terça-feira, 24 de setembro de 2013

As pesquisas que são ocultadas pela indústria farmacêutica

Um arquivo circular é frequentemente o destino de estudos financiados pelas companhias farmacêuticas que não satisfazem seus interesses. (Photos.com)
Depois de tantos testes com medicamentos, quanta sujeira foi varrida para debaixo do tapete?
Para saber se um remédio ou tratamento é eficaz, realizam-se testes aleatórios controlados. O medicamento testado, um placebo ou outra droga, é ministrado aleatoriamente aos participantes. Nem os pesquisadores nem os participantes sabem quem tomou o quê. Monitoram-se os sintomas, os efeitos colaterais e outros indicadores. Depois de certo tempo, o pacote é aberto e ficamos sabendo o que tomavam os diferentes participantes. No entanto, embora muitas pessoas (geralmente os fabricantes) digam que há muita pesquisa por trás de uma substância, geralmente a pesquisa publicada só conta parte da história.
Há pouco tempo, os resultados das pesquisas com a sinvastatina e a ezetimiba, utilizadas nos Estados Unidos para reduzir o colesterol, tiveram de ser extraídos à força dos laboratórios que as produziram. Foram precisos dois anos para que os fabricantes entregassem os resultados após a conclusão dos testes. Depois da divulgação das informações, pôde-se entender o porquê da demora: a combinação das duas drogas é ineficaz na redução dos sintomas de doenças cardiovasculares. Estudos posteriores apontaram resultados negativos.
A indústria farmacêutica deseja publicar só as pesquisas que apoiem o uso dos medicamentos e que deixem de lado os resultados negativos. Existe uma expressão para esta prática: ‘viés de publicação’.
O ‘viés de publicação’ já existe há décadas, mas só há pouco tempo membros da comunidade científica tomam providências para acabar com ela. Um passo importante neste sentido foi a decisão dos Estados Unidos de que as análises de drogas sejam registradas num banco de dados central, antes ou durante a análise. Assim, o estudo é registrado, e se os resultados misteriosamente ficarem ocultos, isto poderá ser questionado.
O caso de um antidepressivo
É natural perguntar como é possível que muitas drogas ganhem reconhecimento com base no ‘viés de publicação’. Pesquisadores honestos estão dispostos a enfrentar esta questão e reavaliar o uso de medicamentos baseados no que foi publicado, e também no que foi omitido.
Em 12 de outubro de 2012, o British Medical Journal divulgou um caso em seu website: pesquisadores alemães decidiram avaliar as informações publicadas e omitidas sobre o antidepressivo reboxetina, medicamento relativamente novo.
A reboxetina ajuda a manter os níveis de noradrenalina no cérebro, substância que, conforme se crê, melhora o humor, e é semelhante aos antidepressivos mais comuns.
Pesquisas publicadas anteriormente mostram que a reboxetina é mais eficiente que o placebo nos tratamentos da depressão. Seu uso foi autorizado em muitos países europeus, inclusive no Reino Unido e na Alemanha, desde 1997.
No entanto, os pesquisadores descobriram que mais da metade das informações sobre a reboxetina deixaram de ser publicadas. Ao se avaliar todas as informações, concluiu-se que a reboxetina é similar ao placebo, mas causa mais prejuízos à saúde. Os pesquisadores concluíram que a reboxetina é “um antidepressivo ineficaz e potencialmente prejudicial”. No entanto, seu uso foi autorizado na Europa há mais de uma década.
Os autores da análise observaram que, no Reino Unido, o Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica (INSEC) descreve a reboxetina como “superior ao placebo e tão eficaz quanto outros medicamentos usados no tratamento da depressão”.
Nos Estados Unidos, a reboxetina foi autorizada a princípio, porém depois se revogou sua licença. A diferença em relação a países da Europa sugere que as autoridades americanas possuíam mais informações nas quais basearam sua decisão, ou talvez possuíssem diferentes critérios para conceder licenças.
Estas discrepâncias e este flagrante exemplo de ‘viés de publicação’ inspiram desconfiança. A boa notícia é que pelo menos um grupo de pesquisadores não se conforma em trabalhar apenas como mandam os investidores da indústria farmacêutica, mas realmente se esforçam por alcançar a verdade. Com certeza, encontraremos muito mais sujeira nos próximos anos ao levantar apenas um pouco o tapete.
O Dr. John Briffa é um médico de Londres e escreve sobre saúde, com interesse em nutrição e medicina natural. Seu website é Drbriffa.com

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