quarta-feira, 15 de junho de 2016

Recursos Salva-vidas


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Clovis Purper Bandeira

Aprendem-se no Exército, na instrução básica do soldado, as medidas a serem adotadas para socorrer um companheiro ferido, enquanto não é possível que este receba os cuidados médicos necessários ou que possa ser removido para local onde será devidamente tratado.
        
São três medidas simples, conhecidas como os três recursos salva-vidas: estancar a hemorragia, proteger o ferimento e prevenir o choque. É evidente que as medidas ocorrem nesta sequência, não sendo possível, por exemplo, proteger o ferimento sem antes estancar a hemorragia.
        
Nosso Brasil, gravemente ferido pela incúria, desonestidade e incompetência de seus últimos governos e da safra de políticos corruptos que, iludindo os eleitores, lograram dominar o Legislativo, sangra por vários ferimentos que afetam seu corpo social, político e econômico. Sofre, ainda, com a possibilidade do surgimento de novos focos hemorrágicos, como os dos fundos de pensão, da Eletrobrás, do BNDES etc.
        
Há muito que fazer para salvar o ferido, tudo é urgente, mas sempre é preciso observar a sequência das ações, começando por estancar a hemorragia.
        
No caso nacional, a operação implica limitar drasticamente as despesas, principalmente diminuindo o peso das folhas de pessoal na mastodôntica máquina pública aparelhada pelos governos petistas, em todos os níveis governamentais. Ao mesmo tempo, é preciso resistir estoicamente às pressões dos novos aliados do governo para substituir os petistas por novos funcionários indicados pelos grupos que chegaram ao poder.
        
Enquanto se estanca a hemorragia, podem-se tomar medidas preparatórias para as próximas etapas do processo salva-vidas. É possível, por exemplo, preparar o material que será utilizado para proteger o ferimento (ataduras, esparadrapo, gaze, talas, padiolas), estudando e propondo leis que dificultem a instalação de novos grupos de bandoleiros no poder, combatendo o nepotismo cruzado, melhorando os mecanismos de controle dos processos licitatórios etc.

Finalmente, chegará a hora de evitar que o paciente entre em choque, conservando-o aquecido, protegido e com a dor sob controle. Talvez este seja o passo mais difícil. Muitos serão levados a desistir, pois o ferido já estará em melhores condições, não sofrendo mais risco de vida.

No entanto, as medidas finais é que lhe restituirão a saúde. Será então oportuno mudar o sistema eleitoral e político, acabando com o sistema de capitanias hereditárias (avós, pais e netos políticos profissionais por herança, na verdade pelo domínio das estruturas partidárias e do processo eleitoral); revendo o próprio método de escolha dos candidatos; barrando a proliferação de legendas nanicas ávidas por venderem seus segundos de tempo gratuito na televisão e por obterem cargos públicos para seus controladores; discutindo seriamente a adoção do voto distrital; voltando a pensar no parlamentarismo; repensando o financiamento das campanhas eleitorais; controlando a liberdade que o Legislativo e o Judiciário gozam de regular seus próprios salários, independente da situação financeira da União; procurando diminuir as diferenças absurdas entre os salários de diferentes carreiras do Executivo; estabelecendo um teto para o número de funcionários públicos, em todas as esferas do poder; limitando ao máximo o número de cargos públicos a serem preenchidos por indicação política etc.

É imprescindível, também, sanear e salvar o sistema de previdência social brasileiro, já falido, e limitar os gastos que o governo pode executar anualmente, criando um orçamento decente e obrigatório.

Isso sem falar nas mazelas sociais, especialmente na área da educação, que comprometem nosso futuro e o de nossos descendentes; na situação calamitosa da saúde pública; na precariedade da segurança pública...

As medidas finais, que darão ao ferido condições de vida normais, ou o máximo que se consiga nesse sentido, são difíceis, pois afetam uma série de privilégios que a classe política acumulou ao longo dos anos e dos quais não abrirá mão facilmente.

No entanto, se não atacarmos a verdadeiras causas das sucessivas crises que têm abalado o país, elas voltarão periodicamente, cobrando-nos um preço social, político e econômico cada vez mais alto.

Antes de tudo, no entanto, é imprescindível estancar a hemorragia.


Clovis Purper Bandeira, General, é Editor de Opinião do Clube Militar.

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