quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

As dez previsões de Byron Wien para 2018


Byron Wien 


👍Todos os anos, desde 1986, enquanto nós comemos lentilhas e fazemos promessas que não vamos cumprir, Byron Wien prepara uma lista muito esperada pelo mercado. O vice-presidente da Blackstone, com 385 bilhões de dólares sob gestão, acaba de divulgar sua versão mais recente: “Dez surpresas para 2018”.
O que Byron chama de surpresas são eventos aos quais o investidor comum atribuiria 33 por cento de chance de acontecer, mas que ele considera ter mais de 50 por cento de probabilidade de se realizarem. Abaixo um resumo das surpresas para 2018, na visão do megainvestidor, em tradução livre: 
  1. A China decide que uma capacidade nuclear em mãos de um líder imprevisível em sua fronteira não é tolerável e corta todo o combustível e suprimento de comida para a Coreia do Norte, que concorda em suspender seu programa de desenvolvimento nuclear, mas não desiste de seu arsenal já montado.
  2. Populismo, tribalismo e anarquia se espalham pelo mundo. No Reino Unido, Jeremy Corbyn será o próximo primeiro-ministro. Mesmo com a ação repressiva do governo espanhol, a Catalunha permanece turbulenta. Apesar dos efeitos econômicos adversos do Brexit, a consequência positiva não intencional é aproximar a Europa de mais cooperação e crescimento.
  3. O dólar finalmente ganha vida. O crescimento real excede 3 por cento nos EUA, o que, combinado com a implementação de alguns componentes da agenda pró-negócios de Trump, renova o interesse do investidor em ter ativos denominados em dólar. O euro cai para 1,10 e o iene para 120 contra o dólar.
  4. A economia americana tem um ano melhor do que o de 2017, mas a especulação alcança um extremo e, por fim, o S&P 500 tem uma correção de 10 por cento. O índice cai para 2.300 pontos, parcialmente por causa de taxas de juros mais altas, mas termina o ano acima de 3.000, já que os ganhos vão continuar a se expandir e o crescimento econômico apontará para 4 por cento.
  5. O preço do West Texas Intermediate Crude (contrato futuro de petróleo) vai superar 80 dólares. O preço vai subir por causa do crescimento global continuado e da demanda inesperada dos países em desenvolvimento, juntamente com estoques reduzidos, disciplina da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e aumentos de produção modestos na Rússia, Nigéria, Venezuela, Iraque e Irã.
  6. A inflação se torna uma questão preocupante. O crescimento global continuado põe pressão nos preços das commodities. Mercados de trabalho apertados em países industrializados resultam em aumentos salariais. Nos EUA, o Índice de Preços ao Consumidor vai acima de 3 por cento. 
  7. Com a inflação mais alta, os juros começam a subir. O Federal Reserve aumenta os juros de curto prazo quatro vezes em 2018 e os títulos para 10 anos movem-se para 4 por cento, mas o Fed reduz seu balanço apenas modestamente por causa do impacto potencial nos mercados financeiros.
  8. O Nafta e o Pacto com o Irã perduram, apesar dos esforços contrários de Trump. O presidente começa a pensar que não assinar a Parceria Transpacífico foi um erro ao ver o crescimento da influência chinesa no mundo e pressiona por mais acordos bilaterais de comércio na Ásia.
  9. Os Republicanos perdem o controle do Senado e da Câmara dos Deputados nas eleições de novembro. Eleitores sentem-se decepcionados de que muitas promessas feitas durante a campanha presidencial não foram implementadas e há uma crescente reação negativa aos Tweets sem fim do presidente. A eleição se transforma em um referendo sobre a presidência de Trump.
  10. Xi Jinping, tendo ampliado sua autoridade no 19º Congresso do Partido Comunista em outubro, foca nos problemas de crédito da China e decide limitar os empréstimos mesmo que isso signifique reduzir o ritmo da economia e criar menos empregos. O crescimento chinês cai para 5,5 por cento, com apenas pequenas implicações para o crescimento global. Xi proclama que essa medida vai garantir a sustentabilidade chinesa no longo prazo.
No mínimo curioso o nível de detalhamento da bola de cristal de Byron. Ele próprio revisa ano a ano suas previsões anteriores – para 2017, o vice-presidente da Blackstone contou seis acertos em dez. 
A lista do ano passado foi feliz, por exemplo, em apontar que o S&P iria além (ainda que Byron tenha subestimado tal alta, ao fincar 2.500 pontos para o índice), com investidores convencidos de que a economia americana teria engatado um crescimento de longo prazo, e que o mercado japonês se provaria um bom lugar para alocar recursos.
Por outro lado, a surpresa da inflação americana movendo-se para 3 por cento, pressionando os juros pagos pelos títulos americanos de dez anos para 4 por cento, não se efetivou – a inflação ficou abaixo da meta, em 2 por cento, e os juros em 2,4 por cento. A surpresa do fortalecimento do dólar ante o euro e o iene também não veio. 
Seja como for, somos talebianos, não byronianos, e o autor do Cisne Negro nos lembra de que nunca conheceremos o desconhecido pois, por definição, ele é desconhecido – simples assim.
Nassim Taleb afirma, entretanto, que sempre podemos tentar adivinhar como o desconhecido irá nos afetar e basear nossas decisões em torno disso. “Não sei quais são as chances de acontecer um terremoto, mas posso imaginar como San Francisco poderia ser afetada por um terremoto” – escreve.

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