Istoé consultou especialistas e usuários e testou dezenas de aplicativos para selecionar os 30 recém-lançados apps com maior potencial de transformar a maneira como as pessoas lidam com suas atividades cotidianas
Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br), Lucas Bessel e Mariana Brugger*
Bastam dois ou três toques na tela de um celular para que se consiga pegar um táxi em segurança e até já sabendo quanto deverá custar a corrida. Com outra meia dúzia de toques no mesmo aparelho, é possível localizar destinos e escolher os melhores caminhos para se chegar a eles no menor tempo possível, driblando os cada vez mais frequentes congestionamentos de nossas capitais. E o mesmo equipamento pode ajudar na escolha da refeição, fornecendo as características de cada alimento e colaborando com o hábito de se buscar um cardápio saudável. Esses são apenas três exemplos de pequenas revoluções que os chamados aplicativos vêm promovendo na rotina de milhões de cidadãos. Casos de sucesso como o Waze, um gps interativo que se transformou praticamente em rede social, ou o WhatsApp, que conecta pessoas e grupos em qualquer lugar do planeta em tempo real, surgem quase diariamente e em diversas áreas, como saúde, educação, finanças, esportes, etc. E os brasileiros aderiram a essa revolução tecnológica. O País é hoje o quarto maior mercado consumidor de smartphones, atrás apenas de China, Estados Unidos e Índia, e o segundo que mais instala aplicativos na Google Play, loja de aplicativos do sistema Android. “O brasileiro adora tecnologia, por isso estamos entre os líderes mundiais”, diz Mario Laffitte, vice-presidente de comunicação corporativa e relações governamentais para América Latina da Samsung, líder global do mercado.
Há aplicativos para todos os gostos, bolsos e sistemas operacionais. Diante de um universo que oferece mais de dois milhões de programas, ISTOÉ consultou usuários e especialistas de diversos segmentos e testou dezenas de apps para selecionar 30 dos mais importantes que estão chegando ao mercado hoje. A lista inclui aqueles que têm potencial para transformar a maneira como os usuários lidam com atividades cotidianas como praticar esportes, cuidar da saúde, programar viagens e até organizar as finanças. “O bom aplicativo é o que resolve problemas”, afirma Gustavo Luveira, diretor de operações da desenvolvedora de aplicativos Kanamobi. Na relação a seguir, dividida em sete categorias, o resultado da seleção dos apps que poderão ajudar a resolver problemas...
Aliado do bom consumo
A infinidade de apps de consumo disponíveis para as plataformas Android e iOS pode ser um aliado ou um vilão para os compradores. Tudo depende do uso. Se apreciados com moderação, os programas de comparação de preços, busca de ofertas e compras online ajudam o consumidor a economizar – e muito. No entanto, a tentação de aproveitar todas as promoções disponíveis pode levar o usuário a perder o controle. “A utilidade pode ser infinita, se houver procedência e se o consumidor tiver critério”, diz Maria Inês Dolci, coordenadora da Proteste Associação de Consumidores. De acordo com a especialista, o benefício da atualização contínua desses aplicativos por empresas dos mais variados segmentos vai além da mera oportunidade de compra. “Apesar de todo o marketing envolvido, os aplicativos também podem ajudar a mudar a forma como as companhias se relacionam com os clientes, já que o comprador consegue ter mais clareza nas informações de compra e dá esse retorno ao vendedor”, afirma Maria Inês. Entre os pontos que merecem atenção do consumidor antes do download do aplicativo está a abrangência geográfica do programa. Muitas das ferramentas de ofertas baseadas em localização disponíveis no Brasil funcionam apenas nas grandes capitais. Também é crucial, no caso dos apps comparadores de preços, observar o histórico de cada loja. Desconfie de preços muito baixos e fique atento à avaliação dos demais usuários. “É crucial buscar diversas referências da empresa que faz a oferta, especialmente se o valor praticado estiver muito diferente da realidade do mercado”, afirma Fátima Lemos, assessora técnica do Procon-SP. “A cautela tem que ser ainda maior no caso de compras feitas de sites que não têm representação no Brasil.”
“A utilidade em compras pode ser infinita, se o consumidor tiver critério”
Monitoramento e feedback
DADOS
Múcio Tavares, do Incor, diz que a avaliação
das informações precisa ser feita por médicos
Eles questionam altura, peso, hábitos, histórico de doenças e até a frequência sexual do usuário. Tudo com a promessa de monitorar sua saúde e ajudá-lo na prevenção e no tratamento de doenças, na perda de peso e na qualidade do sono. Uma consulta médica de bolso. Diretora de marketing da Glow, criadora do aplicativo que acompanha o ciclo reprodutivo feminino, Jennifer Tye diz que mais de dez mil mulheres já engravidaram com a ajuda do programa lançado em agosto do ano passado. “Nós decidimos lidar com a fertilidade porque sentimos que essa é uma das áreas mais carentes em serviços de saúde nos Estados Unidos”, disse à ISTOÉ. Com um aporte de US$ 6 milhões, a companhia cresceu (hoje tem 20 funcionários) e faz sucesso com o aplicativo no mundo todo – embora ainda só tenha versão em inglês. Segundo Jennifer, os smartphones ainda não têm a capacidade de recolher dados de forma passiva, mas num futuro breve, com a ajuda de sensores, isso deve mudar. “Um dia, poderemos identificar com precisão a hora da fertilidade máxima da mulher”, afirma. Para Múcio Tavares, diretor da Unidade de Emergência do Instituto do Coração (Incor), de São Paulo, o desenvolvimento dos aplicativos tem sido rápido, com o armazenamento de uma quantidade maior de informações, mas ainda não há estudos conclusivos que mostrem os benefícios desse tipo de serviço. “Eles funcionam melhor quando conectados a um serviço de saúde”, diz. “Porque só um médico pode avaliar e dizer o que fazer com os dados que estão à mão da pessoa.” Tavares acredita que será cada vez mais comum a transmissão de informações entre pacientes e médicos, clínicas, hospitais e postos de saúde via aplicativos.
“Os aplicativos podem criar uma conexão
maior entre pacientes e serviços de saúde”
Controle ao alcance dos dedos
CONTROLE
Para Caselani, da FGV, aplicativos são boa ferramenta para cuidar do orçamento
Na era da conectividade total, é possível comprar os mais variados produtos, aplicar em ações, pagar contas, fazer transferências e investimentos em qualquer lugar, com poucos toques na tela do smartphone. Mas, e para manter controle de gastos, da flutuação do mercado ou da própria conta-corrente? “Alguns aplicativos sistematizam a maneira como você registra suas despesas e ajudam a fazer um plano de contas”, diz Cesar Nazareno Caselani, professor de finanças da Escola de Administração da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Em um país que valoriza pouco a educação financeira, qualquer ferramenta que ajude o usuário a acompanhar e entender os seus gastos, investimentos e financiamentos é bem-vinda, segundo o professor. “Obviamente, o app sozinho não resolve o orçamento de ninguém, mas ajuda o usuário a criar a disciplina de registro de gastos e de compreensão de possíveis taxas ou juros embutidos em compras”, diz Caselani. Para quem se arrisca na bolsa de valores, a dica é: use os dispositivos móveis como mais um aliado – não dependa exclusivamente deles. Apesar da facilidade de uso, das interfaces amigáveis e dos gráficos coloridos, muitos dos termos utilizados nos apps do mercado de ações são compreensíveis apenas para os já iniciados. “Ainda que o linguajar de investimento esteja um pouco mais difundido, muita coisa é mistura de ‘financês’ com ‘economês’”, diz Fabiano Calil, economista e planejador financeiro. Além disso, a atualização das flutuações do mercado nem sempre ocorre de forma instantânea. E, nesse ramo, poucos minutos podem significar a diferença entre lucro e prejuízo.
“O app sozinho não resolve o orçamento
de ninguém, mas ajuda a criar disciplina”
Todos os destinos num só lugar
TUDO JUNTO
O surfista Carlos Burle abandonou os mapas
e os guias de viagem após a chegada dos aplicativos nos smartphones
Campeão mundial de ondas grandes, o surfista Carlos Burle vive de aeroporto em aeroporto com o celular na mão. “Os aplicativos deixam a vida muito mais simples”, afirma. “Antigamente, a gente só podia usar mapas impressos ou ficávamos pedindo orientações em postos de gasolina e para pedestres.” Agora tudo fica reunido num só lugar , o que facilita ainda mais a vida de quem planeja suas viagens sem a ajuda de agências. “Faço tudo sozinha”, diz a economista Adriana Miller, dona de um blog de turismo. Entre as funções mais comuns dos aplicativos, estão a compra de passagens (com comparação de preços entre as companhias aéreas), a reserva de hotéis e casas, o aluguel de carros, a agenda com datas, horários e endereços, e o acesso a mapas que funcionam offline. O desconhecimento de um idioma estrangeiro também deixou de ser um problema de comunicação, já que programas de tradução funcionam como intermediários em lojas e restaurantes. Adepta dos aplicativos, Adriana leva apenas o smartphone e uma bagagem de mão em viagens curtas pela Europa. “Não pego fila, porque faço o check-in direto no meu aparelho e passo no aeroporto só com o código do meu voo”, afirma. “Nem preciso imprimir o cartão de embarque.” Com tudo sincronizado, os viajantes recebem informações específicas do destino, como dicas de passeios, recomendações de outros turistas e locais, e a previsão do tempo. “Até minha mala depende do que vejo nos aplicativos, para saber quais roupas, equipamentos e suplementos levar”, diz Carlos Burle. “Assim você se vira em qualquer lugar do mundo.”
“Até minha mala depende das informações que vejo nos aplicativos”
Autonomia no ensino
O desenvolvimento dos aplicativos móveis para a educação transformou a aprendizagem de um novo idioma no trajeto para o trabalho, ou no horário de almoço, num ato banal. Mas mais do que isso, fez do ensino uma tarefa divertida. Foi assim que o Duolingo se tornou um dos aplicativos mais populares do Android e do iPhone. Alternando exercícios repetitivos, desafios e recompensas, o aplicativo conquistou mais de dez milhões de usuários ativos, de acordo com a própria empresa, e, em fevereiro, recebeu um aporte de US$ 20 milhões de um fundo de investimentos. “A ‘gamificação’ já faz parte, em larga escala, das salas de aula, ajudando professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem”, diz Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna. “O uso de ‘games’ tem sido, inclusive, um dos caminhos para potencializar as habilidades socioemocionais.” Flavia Goulart, gerente de inovação da Fundação Lemann, vê pelo menos cinco grandes benefícios nos aplicativos: personalização, aprendizagem pelo domínio, autonomia, diversão e acesso. “Esses programas aprendem primeiro sobre o usuário para depois ensiná-lo”, afirma. Por isso, conseguem transmitir o conhecimento pelo método mais eficiente para cada um. A tecnologia ainda permite que os alunos estudem a hora que quiserem, explorem o conteúdo que julgarem mais interessante e tenham acesso aos melhores especialistas e professores do mundo. “Outro ponto interessante é que, nos aplicativos de ensino, as pessoas só passam para a próxima habilidade ou tema depois de ter dominado completamente o nível anterior”, diz Flavia. “Isso é muito relevante para a construção do conhecimento em disciplinas como a matemática.”
“As plataformas digitais permitem que cada
vez mais pessoas tenham acesso à educação”
Muito além do selfie
CHAT
Garcia, o Cartiê Bressão: apps permitem uma
conversa coletiva entre autor e espectador
Estima-se que pouco mais de quatro bilhões de fotografias serão feitas em todo o mundo em 2014. Atualmente, mais imagens são capturadas em um único dia do que em todo o ano de 1930. Essa banalização da foto e do vídeo é irreversível, mas é possível fazer bom uso dos aplicativos para que nem todos os registros fiquem esquecidos nas memórias digitais. “O que acho mais interessante do celular atual é que ele pode ser usado para que as pessoas se expressem e aproveitem a conectividade para fazer uma conversa coletiva”, diz Pedro Garcia, fotógrafo carioca mais conhecido como Cartiê Bressão. Na ânsia de registrar cada momento minimamente relevante, do selfie com amigos ao acidente na esquina de casa, o usuário se torna um grande produtor de conteúdo, que circula pela rede de maneira nunca antes vista. Os aplicativos, nesse contexto, ajudam a selecionar, corrigir e compartilhar. “O smartphone funciona como um canivete suíço moderno, e esses aplicativos são as ferramentas desse canivete, no lugar das facas e chaves de fenda”, diz Garcia. O mesmo raciocínio vale para e-mails, documentos e mensagens. Com esse fluxo de informação sem precedentes, organizar e priorizar é uma tarefa absolutamente essencial. “Hoje, os aplicativos são mais e mais utilizados como ferramentas para selecionar e categorizar tudo que chega ao smartphone”, diz Gustavo Luveira, diretor de operações da desenvolvedora de aplicativos Kanamobi. “E, como sabemos, cada vez mais informação de todo tipo atinge o celular de todo mundo.” Portanto, seja na hora de capturar aquela foto ou vídeo imperdível, seja na hora de decidir quais e-mails ler ou descartar, os apps podem ser grandes aliados.
“O smartphone funciona como um canivete suíço moderno”
Desafio em dupla
Emagrecer, praticar um esporte ou fazer um exercício físico deixou de ser uma tarefa solitária com a popularização dos smartphones. Utilizando os aplicativos voltados para isso, os usuários agora criam metas e desafios e comparam seu desempenho com seu próprio histórico ou outros usuários. “Mais do que armazenar quantos quilômetros a pessoa correu e em qual velocidade, eles mostram em gráficos sua evolução”, diz Bruno Franco, coordenador de inovação da rede de academias Bodytech. “Quem faz dieta utilizando ferramentas que diariamente quantificam as calorias que ingere e gasta tem mais resultado do que quem não anota nada.” Conhecida no Instagram com a hashtag #projetocarolbuffara em que troca dicas de alimentação, beleza e esportes, a empresária Carol Buffara prefere os aplicativos para correr. “Escolho se, enquanto escuto música, quero ouvir meu tempo e, no fim, ele ainda mapeia o trajeto que fiz e me mostra no GPS”, afirma. “Assim, construí uma espécie de diário de corrida.” O mercado cada vez maior de rastreadores de atividades físicas tem feito tanto sucesso que chamou a atenção das grandes empresas de tecnologia. Em abril, o Facebook, que já é dono do Instagram e do WhatsApp, entrou no segmento fitness ao comprar a ProtoGeo Oy, companhia criadora do Moves. O aplicativo coleta automaticamente – mesmo quando fechado – dados do acelerômetro do celular e os traduz em número de passos, distância percorrida e calorias gastas. Lançado em janeiro, ele já foi instalado mais de quatro milhões de vezes por usuários do Android e do iPhone.
“Os aplicativos funcionam como se fossem um treinador ao seu lado”
Fotos: João Castelano/Ag. Istoé; Rogerio Albuquerque, Divulgação; Bruno Poppe